No cenário
underground das bandas, principalmente as de rock, existe uma constante crítica
de que as pessoas pagam um ingresso caro para ver bandas que tocam covers e não
pagam R$ 2,00 no ingresso do show da banda autoral. Isso meio que acontece no
meio empreendedor.
De antemão,
informo que não estou julgando quem vai para eventos de grandes nomes bem
sucedidos no meio empreendedor e que vive à caça destes eventos com estas
pessoas. A minha intenção é provocar aqueles que gostam de empreendedorismo de
que existem vários cases de sucesso do seu lado. E sucesso não quer dizer,
necessariamente, milhões na conta.
Comecei a ficar
incomodado desde que comecei a ver pessoas gastando dinheiro para ver outras
falando de sua história de sucesso como se fossem dar a fórmula mágica do
enriquecimento e seguido de um “se eu consegui, você consegue!” e isso meio que
se torna um mantra a ser obedecido cegamente. “Visse o que fulano falou sobre
isso? É isso que tem que ser feito!”. Daí, se puxa que não são todos os que
vendem a história do sucesso iminente que realmente começaram do zero. Uns eram
concursados ou alguém na família tinha alguma condição ou um negócio para ser
conduzido. Claro que isso não é regra geral, mas chega a ser injusto com
aquelas pessoas sedentas por saber notar que seu “heroi” não tem tantos poderes
assim.
Do outro lado
da ponta está o cara que tem uma ideia, levou um monte de porrada para que sua
ideia não ficasse apenas no imaginário, se desdobrou em saber mais (incluindo
aprender com as pessoas do parágrafo anterior), viu o cenário e...colocou o
barco no tumultuado mar do mercado. 95% das startups morrem nos primeiros dois
anos de fundação. Primeiro o desafio é sobreviver a esse período para depois
ser considerado “gente”. Daí, a lista de coisas a ser superadas aumenta.
Burocracia,
captar clientes, mostrar a marca, melhorar produtos, muitos gastos e pouca
entrada que resultam em menos fins de semana de descanso, menos tempo com as
pessoas que gosta, contar os quilômetros para ver se o carro chega, deixar
aquela roupa para ser comprada para mais tarde. É a hora de um cenário não tão
agradável, mas necessário para que se consiga o sucesso, seja ele qual for.
Então, porque
um é ultra valorizado e o outro invisibilizado? É óbvio que todos querem
conhecer o case de quem já ganha dinheiro, mas, provoco o exercício de
passarmos a olhar com o mesmo brilho do milionário, o empreendedor que está do
nosso lado tentando crescer e fazer o seu produto algo que vá fazer diferença
na vida das pessoas. Talvez, ele tenha algo a ensinar que, de fato, vá nos
impactar e dar força para seguir em frente. Afinal de contas, a essência do
empreendedorismo não é trazer algo novo para impactar na vida das pessoas? Lembremos
que, muitos dos primeiros citados estiveram na condição dos segundos durante
muito tempo.
Em tempos
difíceis, a união deve estar em todos os cenários. O que trago aqui é: Valorize
aquele seu amigo que tem uma ideia e está na correria para que ela se
desenvolva. Valorize aquela conhecida sua que está arrancando os cabelos para
validar um produto que pode ajudar pessoas. Valorize aquele grupo de pessoas
que divide a gasolina para ir apresentar o trabalho em algum evento. Eles e
elas estão mais próximos de você do que seu ídolo. Um não precisa estar por
cima do outro.
Francisco Rodrigues
Vice-presidente do Movimento Tapioca Valley